Esta noite sonhei que as redes sociais tinham estabelecido novas regras para os usuários. As mudanças eram bastante restritivas. De agora em diante, só seriam aceitas postagens em formato de parábola. O sonho era uma coleção de telas diante das quais centenas de pessoas ficavam tentando decifrar os significados ocultos das histórias.
Uma das parábolas era a mais popular, trending topic constante nos últimos meses, e vinha provocando muita controvérsia e renhidas discussões. Juro que 98% da história não foi inventada, mas sonhada. Era mais ou menos assim:
Em uma terra quase desértica e de forma nenhuma paradisíaca chamada Brasil, tinha chegado a época de eleições e cada pessoa votava escolhendo um fruto para comer. Uma voz dos céus disse: “Vocês podem escolher o fruto de qualquer árvore, menos da árvore na qual vive uma serpente.” (Eu sei, também achei que começava como uma história batida, mas logo compreendi que isso é uma característica de muitas parábolas).
Aos olhos do povo, comer o fruto proibido era um desejo quase irresistível. Muitos se perguntavam: “Que mal pode nos acontecer comendo o fruto da árvore da serpente? Já provamos muitos frutos e nenhum é muito diferente do outro”.
Ainda assim, grande parte dos brasileiros refletiu e concluiu que não valia a pena comer o fruto não recomendado. A serpente que morava na árvore boa coisa não poderia trazer. Mas a maioria ignorou a voz dos céus. O fruto proibido foi escolhido e comido de maneira avassaladora.
Como resultado, a serpente ganhou voz e começou a falar com as pessoas. Elas então começaram a fazer perguntas:
“E agora? O que vai acontecer?”
“O que vai mudar nas nossas vidas?”
“A vida vai melhorar ou piorar?”
A serpente finalmente respondeu: “Agora vocês terão conhecimento da essência das pessoas”.
Os brasileiros não compreenderam. Um perguntou: “Como assim a essência das pessoas? O que isso significa?”
E outro: “Esse papo de essência é uma perda de tempo.”
E outra: “É impossível conhecer a essência de uma pessoa.”
A serpente esperou todos se calarem e disse: “Ora, é uma questão muito simples. Para conhecer a essência de uma pessoa, basta imaginar o que ela faria se tivesse poder ilimitado.”
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