Alberto Dines entrevista Leonardo Padura. Em quase uma hora de papo, falam da crise do jornalismo, de como os editores de livros brasileiros o ignoravam até pouco tempo, da capacidade do romance policial ser uma crônica social (cita Rubem Fonseca como precursor), até de séries de TV e das malandragens que permitem ver Game of Thrones em Cuba – há "caixeiros viajantes" de programas de televisão, que vendem os episódios de porta em porta no dia seguinte à exibição.
Num texto no Observatório da Imprensa, Dines credita o frio tratamento que o multitraduzido e multipremiado Padura continua a receber nos meios culturais ao nó na cuca que ele provoca por não ser um "dissidente", mas independente: "Para o lobby midiático não convém glorificar Padura, ele representa uma 'normalidade' que não deve ser enfatizada. Os princípios e valores que ele encarna são inconvenientes porque um escritor cubano não pode ser um humanista, cosmopolita, refinado intelectual – só tem o direito de encarnar o rebelde anti-castrista ou, ao contrário, o burocrata a serviço de uma tirania. Este Padura ocidental, legítimo herdeiro de Balzac e Tolstoi, derruba os mitos e estereótipos caricaturados ao longo de quase seis décadas pelos propagandistas da Guerra Fria".
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