Uma seleção de supermodelos, todas superlindas e supermagras, foi escalada anos atrás por uma revista de moda na internet para opinar sobre os pedacinhos de pano mais revolucionários da história. Em vídeo produzido pela revista, as modelos vão direto ao ponto para justificar sua preferência pelo brazilian style: é pequeno. Mas a medida da preferência vem com uma ressalva adicional. A maioria abomina os lacinhos na parte de baixo.
Sem laços ou nesga de inibição, mas com uma argola na parte de baixo provavelmente abominável para as puristas, Betty Faria foi flagrada dia desses fazendo o que toda mulher sem alergia à luz do sol faz nas praias do Rio de Janeiro. Suas vestes levaram o Brasil que não põe os pés na areia a uma grandiosa descoberta: há velhas usando trajes de banho. E nenhuma lei islâmica em vigor no país, a atriz depois lembrou, que as impeça.
Como se sabe, o biquíni veio ao mundo como uma bomba atômica. Em 1946, enquanto os Estados Unidos faziam testes nucleares no Atol de Bikini, no Oceano Pacífico, dois franceses andavam ocupados em despir o pudor das roupas de banho.
Jacques Heim fazia alta-costura havia quinze anos. Criou um traje de duas peças batizado de “Átomo”, embora não fosse tão pequeno. Engenheiro de automóveis, Louis Réard tinha uma mãe dona de loja de roupas. Resolveu aplicar seus conhecimentos de design industrial à moda e deu às mulheres, mas talvez principalmente aos homens, o biquíni. A história só se completa quando as duas peças, que mais despem do que vestem, desembarcaram na praia de Copacabana nos anos 1960. Inventado pelos franceses, o biquíni virou uma especialidade brasileira.
No caso de Betty Faria, o aprimoramento contornou os sinais do tempo com dignidade e livre-arbítrio. E de lambuja preencheu nos sites e revistas de famosos uma improvável cota da terceira idade. A preocupação com os trajes de banho da veterana atriz e demais banhistas com pelancas teria mais sentido se envolvesse um tabu muito mais sólido do que o topless nas praias do Brasil, hábito insuportável para o recato nacional.
Da ingenuidade pornográfica das pin-ups do início do século passado ao despudor, digamos, que ultimamente garantiu até às gordinhas um lugar ao sol na indústria de ensaios sensuais, a nudez dos velhos é a última fronteira da liberação sexual e continua intocada. As senhoras devem ser sempre respeitáveis. Pode haver maior paradoxo diante da crescente incontinência dos velhos safados cientificamente autorizada pelo Viagra?
O teatrinho do escândalo provocado pelo biquíni de Betty Faria ganharia mais realismo na década de 1960. Para isso basta voltar aonde tudo começou, segundo a imaginação do produtor e diretor de animação americano Bob Clampett e sua equipe na rede ABC. No velho desenho animado Beany e Cecil, criado por Clampett, perto do Atol de Bikini há uma famosa colônia nudista, o “Atol Sem Bikini”. Trata-se de uma terra pré-histórica, lar dos últimos dinossauros cantores, que fica logo após a Bridge Bardot e a Low Low Bridge-Ada. Uau, uivavam as serpentes marinhas.
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