
A felicidade das classes abastadas, cujo lugar no paraíso foi negado por Deus, obrigando os ricos a serem felizes aqui na Terra mesmo, anda ameaçada nos tempos que correm. Crise no mercado de capitais, pânico nas Bolsas, títulos podres a contaminar a exuberância do capitalismo e grandes investidores cabisbaixos, descrentes do lucro fácil, líquido e certo.
Nem na alta do petróleo, esteio seguro que move as nações, pode-se mais confiar. Enquanto isso, não há mais um pobre sequer sem aparelho de DVD ou celular, as garagens da classe média parem carros como coelhos fazem filhotes e a bancarrota, palavra riscada dos dicionários da alta roda desde 1929, reapareceu na cartilha dos banqueiros. Conclusão irrefutável: há um complô mundial contra a riqueza.
Qualquer um que, pelos acasos da vida, tenha sido surpreendido por uma fortuna batendo à sua porta, agora vive impedido de gozar, serena e tranquilamente, de sua frota de carros importados, passeios de iate ou um simples final de semana em Paris.
Ao cidadão abonado, restaram as noites mal dormidas e a angústia de não saber se, no dia seguinte, será obrigado a se desfazer de suas ações em queda para não comer o pão-de-ló que o diabo amassou. E viver, oxalá isso jamais aconteça, como alguém apenas medianamente rico.
"Tudo é produzido para os milhões, nada para os milionários", escreveu o dramaturgo irlandês Bernard Shaw sobre o constrangimento causado pela indústria de massa aos indivíduos da elite, que nunca encontram caviar na feira. E agora, como se não bastasse, nem de um sono tranquilo em seus travesseiros de penas de ganso podem mais desfrutar.
Louvado seja o Senhor, que criou o Federal Reserve, o Banco Central Europeu e todos os demais bancos centrais para corrigir tamanha injustiça.
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