Hollywood, razão e diversidade
C om o alvoroço habitual de final de campeonato, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood soltou a lista de finalistas ...
Com o alvoroço habitual de final de campeonato, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood soltou a lista de finalistas da 82ª edição dos célebres Academy Awards, popularmente conhecidos como Oscar (pronuncia-se Óscar). A Hora Prima apurou que, para chegar à relação, os sócios do clube geriátrico do cinema americano estipularam critérios nunca antes adotados na história daquele país. A seleção final foi baseada em um suposto sistema de pontuação inédito, que levou em conta perfil social e características pessoais dos realizadores. De acordo com uma fonte ligada à presidência da Academia, os critérios foram utilizados com objetivo de ter na cerimônia representantes de variados segmentos da sociedade. Entre os concorrentes a melhor direção, a estratégia resultou na indicação de um gay (Lee Daniels), um judeu da prole hollywoodiana (Jason Reitman), um indie com talento (Quentin Tarantino), uma divorciada (Kathryn Bigelow) e uma velha lésbica (James Cameron).
O anúncio dos finalistas do Oscar (pronuncia-se Óscar) gerou controvérsias. Críticos afirmam que a Academia meramente busca com a nova estratégia maiores níveis de audiência ao aproximar-se da sociedade americana contemporânea, variada racial e intelectualmente. Representantes dos cinco maiores estúdios de Hollywood rebateram as acusações, afirmando que a indústria cinematográfica sempre pensou nos excluídos. "Toda vez que ouço falar em respeito às minorias, saco meu talão de cheques", garantiu um alto executivo sob a condição do anonimato (exigência que a Hora Prima não apoia; venera).
Questionado sobre a polêmica, o fundador do estúdio MGM, Samuel Goldwyn, enviou uma nota psicografada à imprensa por meio de sua assessoria. Segue a íntegra do documento, assinado por aquele a quem Fritz Lang chamou de 'produtor de verdade': "Inclua-me fora dessa".
Os novos critérios preveem ainda cinco concorrentes extras na categoria de melhor filme, além dos cinco habituais. A novidade causou espécie em parte da crítica. O presidente da Associação de Cronistas Cinematográficos Baianos Exilados na África, Saymon Nascimento, vê uma contradição na decisão dos chefões hollywoodianos. "A Academia decidiu usar novos critérios, mas a lista de melhor filme acabou sem critério algum. Para chegar a dez indicados, sobrou uma boquinha até para District 9". Nascimento não deu mais declarações. Presume-se que ele não gostou muito do filme.
A pedido da reportagem, o Conselho de Críticos de Arte, Espetáculos e Amenidades da Hora Prima, órgão máximo de deliberação deste periódico para julgamento de obras pretensamente artísticas, emitiu parecer oficial no qual minimiza os efeitos do susposto novo sistema adotado para o Oscar (pronuncia-se Óscar). Segundo o parecer, Hollywood poderia ter feito o que bem entendesse com a premiação, desde que não ignorasse na categoria de ator coadjuvante o desempenho da revelação André Setaro no curta-metragem "Na Cena", de Cássio Sader e Raul Moreira. Filmado durante o último Festival de Cinema de Tiradentes (MG), o filme desconcerta pelo equilíbrio do intérprete na cena inicial. Setaro, que corporifica o personagem Nosso Mestre, não é ator estreante - já representou um velho com saudade de si mesmo em um trabalho de inspiração borgiana e o dono de uma funerária num curta baiano. Mas sua verve e desenvoltura nas ruas da cidadezinha mineira chamaram a atenção dos maiores especialistas em interpretação. "É um absurdo completo a Academia de Hollywood ignorar este trabalho. Setaro está inexcedível, é mais Setaro que o próprio Setaro", afirma o parecer. André Setaro também é crítico de cinema.
A Hora Prima, avessa às polêmicas gratuitas e isenta quando o assunto não tem a mínima importância, brinda os seus leitores com a atuação que falta ao Oscar (pronuncia-se Óscar):
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