CULTURA Padre Pinto, 5.9, apresenta: 'Redondo Apocalipse' A Hora Prima conta os bastidores da festa de natalício do cura; a...
CULTURA
Padre Pinto, 5.9, apresenta: 'Redondo Apocalipse'
A Hora Prima conta os bastidores da festa de natalício do cura; ausência de D. Geraldo foi bastante sentida
A Escola de Belas Artes da UFBA, no Canela, respirava ares agitados no começo da noite de quinta-feira, 23 de março de 2006. Nos salões do casarão principal, acostumados com o desfile de pinturas, esculturas e instalações de alunos, os quadros expostos despertavam interesse especial até mesmo na parcela do público habituada ao mundo blasé das vernissages. Supostos especialistas, munidos do conhecimento que lhes é peculiar, faziam seu suposto trabalho, enxergando “uma natureza forte” neles. Holofotes, câmeras de tevê e microfones em punho completavam o cenário de um circo meticulosamente armado para o desfile da verdadeira grande atração da noite.
À medida que o tempo passava, um atraso imprevisto pelos organizadores deixava cada vez mais gente ansiosa. Última entre seus colegas a chegar, a repórter da TV Bahia inquiria: “Onde ele está?”. Ciente de que nestes casos a pressa é inimiga da profissão, o assessor respondia o óbvio: “Houve um pequeno atraso”. Ah, bom. E para não perder o fio da meada e confirmar suas fontes, a repórter aproveitava a presença do rapaz para uns esclarecimentos. “Ele vai comemorar o aniversário hoje, é?”. Diligente, o assessor retrucou: “O aniversário dele é hoje”. Ah, bom.
Instantes depois, o turbilhão de luzes formado na porta principal não deixava margem a dúvidas. Cercado pelas câmeras, deleitado pelos microfones, o aniversariante apareceu sorridente como nunca, maquiado e caprichosamente cândido como sempre. “Padre Pinto!”, ouvia-se em meio a fortes aplausos. Padre Pinto, 59 anos completados no dia, reaparecia publicamente pela primeira vez desde seu retiro forçado de Carnaval. Depois do pedido de desculpas pelo atraso, um rápido agradecimento: “Obrigado a todos, especialmente a vocês da imprensa”. E uma mudança de conceito – ciente dos riscos edipianos contidos em sua afirmação anterior, de que os jornalistas são seus pais, o Padre fez as pazes com Freud: “A imprensa é minha mãe”, disse, amável como uma.
Todos satisfeitos, hora da coletiva. A moça da TV Bahia toma a frente: “Padre, por que só agora expor obras produzidas em 99?”. Padre Pinto se ajeita, ouve a pergunta e começa a disparar: “Necessidade das obras sociais. As obras estão paradas e precisamos da ajuda de todos para não parar o trabalho. Os quadros são resultado de um estudo que fiz na época do livro do Apocalipse de São João, e por isso o nome da exposição, ‘Redondo Apocalipse’. É um livro lindo, pouco conhecido. Mas existem outros quadros menores, produzidos neste ano” - um deles, dividido em quatro telas, mostra o lead-singer carnavalesco Tomate.
Cumprida a pauta artística, a repórter vai ao que interessa: “E como está a sua situação, Padre?”. “Estou alojado na casa paroquial, minha filha, pois não me deram condições nem de construir o tal quartinho nos fundos. Mas não vou à igreja nem ao túmulo de meus pais. Peço alguém para levar flores, mas não vou. Tenho um prazo até 10 de abril para permanecer, mas se não aparecer nada até lá, continuo. Eu podia ir para debaixo da ponte, mas não estou com muita disposição para isso não. A Igreja vai ter que me aceitar como eu sou. Parar com hipocrisia, com grosseria. Considero D. Geraldo um grosseiro. Ele não poderia ser nem bispo, quem dirá cardeal, pois não é nem pai. E o conselho da congregação [das Divinas Vocações] são uns padres de bermuda e chinelo.” Confirmando sua popularidade e, quem sabe, suscitando vocações políticas, Padre Pinto é ovacionado. O eleitorado é todo seu.
Inaugurada a exposição, restava começar a festa. Muita gente no pátio atrás do casarão, bandejas circulando com Nova Schin quente, DJ e jogo de luz bombardeando os corações de penetras e convivas do Padre. Uma pequena pausa na animação para um informe já esperado: Roaleno Costa, diretor da escola, conclama a todos a cantar os parabéns. Padre Pinto parece intimidado com os olhares em sua direção, até se soltar com os acordes de “Hoje vai ter uma festa, bolo e guaraná, muito doce pra você...”. Dança, rebola, coreografa seus próprios passos e se aplaude ao final. Pede o microfone e coroa sua noite: “É isso aí, gente. A vida é para ser aproveitada. Quem não gostar, que meta o dedo nos zói e rasgue!”
Em sintonia com a homilia do Padre, o DJ arremata:
“De mãos atadas, de pés descalços
Com você meu mundo andava de pernas pro ar
Sempre armada, segui seus passos
Atei seus braços pra você não me abandonar
Não me lembro seu nome, seu telefone eu fiz questão de apagar
Aceitei os meus erros, me reinventei e virei a página
Agora eu tô em outra....
Tô nem aí , Tô nem aí...
Pode ficar com seu mundinho, eu não to nem aí
Tô nem aí , Tô nem aí...
Não vem falar dos seus problemas que eu não vou ouvir..”
Padre Pinto, 5.9, apresenta: 'Redondo Apocalipse'
A Hora Prima conta os bastidores da festa de natalício do cura; ausência de D. Geraldo foi bastante sentida
A Escola de Belas Artes da UFBA, no Canela, respirava ares agitados no começo da noite de quinta-feira, 23 de março de 2006. Nos salões do casarão principal, acostumados com o desfile de pinturas, esculturas e instalações de alunos, os quadros expostos despertavam interesse especial até mesmo na parcela do público habituada ao mundo blasé das vernissages. Supostos especialistas, munidos do conhecimento que lhes é peculiar, faziam seu suposto trabalho, enxergando “uma natureza forte” neles. Holofotes, câmeras de tevê e microfones em punho completavam o cenário de um circo meticulosamente armado para o desfile da verdadeira grande atração da noite.
À medida que o tempo passava, um atraso imprevisto pelos organizadores deixava cada vez mais gente ansiosa. Última entre seus colegas a chegar, a repórter da TV Bahia inquiria: “Onde ele está?”. Ciente de que nestes casos a pressa é inimiga da profissão, o assessor respondia o óbvio: “Houve um pequeno atraso”. Ah, bom. E para não perder o fio da meada e confirmar suas fontes, a repórter aproveitava a presença do rapaz para uns esclarecimentos. “Ele vai comemorar o aniversário hoje, é?”. Diligente, o assessor retrucou: “O aniversário dele é hoje”. Ah, bom.
Instantes depois, o turbilhão de luzes formado na porta principal não deixava margem a dúvidas. Cercado pelas câmeras, deleitado pelos microfones, o aniversariante apareceu sorridente como nunca, maquiado e caprichosamente cândido como sempre. “Padre Pinto!”, ouvia-se em meio a fortes aplausos. Padre Pinto, 59 anos completados no dia, reaparecia publicamente pela primeira vez desde seu retiro forçado de Carnaval. Depois do pedido de desculpas pelo atraso, um rápido agradecimento: “Obrigado a todos, especialmente a vocês da imprensa”. E uma mudança de conceito – ciente dos riscos edipianos contidos em sua afirmação anterior, de que os jornalistas são seus pais, o Padre fez as pazes com Freud: “A imprensa é minha mãe”, disse, amável como uma.
Todos satisfeitos, hora da coletiva. A moça da TV Bahia toma a frente: “Padre, por que só agora expor obras produzidas em 99?”. Padre Pinto se ajeita, ouve a pergunta e começa a disparar: “Necessidade das obras sociais. As obras estão paradas e precisamos da ajuda de todos para não parar o trabalho. Os quadros são resultado de um estudo que fiz na época do livro do Apocalipse de São João, e por isso o nome da exposição, ‘Redondo Apocalipse’. É um livro lindo, pouco conhecido. Mas existem outros quadros menores, produzidos neste ano” - um deles, dividido em quatro telas, mostra o lead-singer carnavalesco Tomate.
Cumprida a pauta artística, a repórter vai ao que interessa: “E como está a sua situação, Padre?”. “Estou alojado na casa paroquial, minha filha, pois não me deram condições nem de construir o tal quartinho nos fundos. Mas não vou à igreja nem ao túmulo de meus pais. Peço alguém para levar flores, mas não vou. Tenho um prazo até 10 de abril para permanecer, mas se não aparecer nada até lá, continuo. Eu podia ir para debaixo da ponte, mas não estou com muita disposição para isso não. A Igreja vai ter que me aceitar como eu sou. Parar com hipocrisia, com grosseria. Considero D. Geraldo um grosseiro. Ele não poderia ser nem bispo, quem dirá cardeal, pois não é nem pai. E o conselho da congregação [das Divinas Vocações] são uns padres de bermuda e chinelo.” Confirmando sua popularidade e, quem sabe, suscitando vocações políticas, Padre Pinto é ovacionado. O eleitorado é todo seu.
Inaugurada a exposição, restava começar a festa. Muita gente no pátio atrás do casarão, bandejas circulando com Nova Schin quente, DJ e jogo de luz bombardeando os corações de penetras e convivas do Padre. Uma pequena pausa na animação para um informe já esperado: Roaleno Costa, diretor da escola, conclama a todos a cantar os parabéns. Padre Pinto parece intimidado com os olhares em sua direção, até se soltar com os acordes de “Hoje vai ter uma festa, bolo e guaraná, muito doce pra você...”. Dança, rebola, coreografa seus próprios passos e se aplaude ao final. Pede o microfone e coroa sua noite: “É isso aí, gente. A vida é para ser aproveitada. Quem não gostar, que meta o dedo nos zói e rasgue!”
Em sintonia com a homilia do Padre, o DJ arremata:
“De mãos atadas, de pés descalços
Com você meu mundo andava de pernas pro ar
Sempre armada, segui seus passos
Atei seus braços pra você não me abandonar
Não me lembro seu nome, seu telefone eu fiz questão de apagar
Aceitei os meus erros, me reinventei e virei a página
Agora eu tô em outra....
Tô nem aí , Tô nem aí...
Pode ficar com seu mundinho, eu não to nem aí
Tô nem aí , Tô nem aí...
Não vem falar dos seus problemas que eu não vou ouvir..”
5 comentários
Pamplona, esta Hora Prima é uma mãe.
ReplyTodo mundo quer mesmo viver a doce vida. Esse texto é a coisa mais doce vida que leio em muito tempo.
ReplyEu estava lá e atesto que não houve licença poética. É tudo verdade mesmo.
ReplyAnatematizarei o padre, o jornalista e esta pessoa que o acompanhou!
ReplyGeraaaaaaaaaaaaaaaaaaaldo...
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