CRISE EM PINDORAMA
Valério e Delúbio armam “operação salva-vidas”
A versão apresentada por Marcos Valério em entrevista ao Jornal Nacional é uma tentativa óbvia de desvincular os milhões sacados das contas de suas empresas dos indícios de corrupção. Como Valério disse desconhecer o destino do dinheiro, tendo efetuado os empréstimos a pedido de Delúbio, se isentou de culpa. Revestido pela legalidade, tenta sair da linha de tiro como mais um alvo. Disse, inclusive, que pretende se afastar das empresas, como se fosse possível desvincular sua imagem das agências. É um jogo de cena admirável, no qual se coloca como prejudicado em sua boa-fé. Seus advogados instruíram-no bem: como não pode mais negar sua relação com a cúpula petista agora destituída, bolou uma estratégia em que passa de principal acusado de operar a suposta rede de corrupção a simples credor do PT. É o mesmo que dizer: se fizeram do dinheiro “mensalão”, isso é com o Delúbio.
Passada a responsabilidade para o ex-tesoureiro do PT, eis que ele surge, desenvolto, em entrevista ao mesmo Jornal Nacional no dia seguinte (coincidência?). A preocupação de Delúbio é a mesma de Marcos Valério: esvaziar a tese do “mensalão”, o calvário petista, preservando o que resta da identidade ética outrora associada ao partido. Confirma a versão de Valério segundo a qual o dinheiro era destinado a saldar dívidas do PT, mas vai além. Revela a existência de ‘caixa dois’ em todas as campanhas (exceção à de Lula em 2002), restringe a prática à sua única responsabilidade e se comporta como estivesse dando satisfações à Nação! Trate-se de uma “operação salva-vidas”: a de Valério, que sabe demais para ser jogado às cobras, e a do PT, que se livraria da pecha da corrupção. O único sacrificado seria Delúbio, que acostumado às sombras, não representaria grande perda.
Tudo combinado então, o “mensalão” passaria a história da carochinha, boataria, leviandades de Roberto Jefferson. O grande vilão seria o sistema de financiamento de campanhas que, insuficiente, obriga os partidos a levantarem verbas de maneira não-oficial. Valério e Delúbio, no entanto, não esclareceram quais os instrumentos jurídicos utilizados nos empréstimos. Um disse se tratarem de “operações comuns”, registradas entre suas empresas e o PT. O outro falou em um “instrumento particular”, assinado por ele, no qual não constavam garantias oferecidas pelo partido. Valério exerceria uma quase-liberalidade, com a intenção de aproximar PT e partidos aliados de suas agências de publicidade.
Resta esclarecer ainda se os empréstimos a que os dois se referem eram diretamente de Valério para o PT, ou dos bancos para o PT e avalizados por Valério, caso do empréstimo assinado também por Genoino, sem ler (sic), de R$ 2,4 milhões.
Para confirmar a nova versão, basta comparar o montante dos saques e os documentos que venham a comprovar o pagamento de dívidas do PT no período. Estas, dizem alguns jornalões, podem chegar a R$ 160 milhões. Como a nova direção informou a soma, segundo a contabilidade oficial, de R$ 20,6 milhões, e que suspendeu todos os pagamentos desde o início do ano, é provável que as dívidas a que se referem Valério e Delúbio tenham sido contraídas extra-oficialmente. E desta vez, quem as avalizou, já que o próprio Delúbio admite não ter patrimônio para tal? Tenho uma leve suposição de que Roberto Jefferson deve ter a resposta.
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